Do ChildFund Brasil - Apesar da recuperação da crise econômica, 2017 não foi um bom ano para os brasileiros. Pelo menos para aqueles que estão na linha da extrema pobreza.
De acordo com o levantamento realizado a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, o índice de pobreza no Brasil aumentou em 11.2% de 2016 para 2017. Na prática, estamos falando de um aumento de 1,49 milhão de pessoas que passaram a conviver com até R$136 mensais. Se formos comparar com 2014, ano em que a crise econômica começou, esse número sobe para 53% de brasileiros vivendo na pobreza extrema.
Você sabe o que isso significa? Principalmente, como o aumento na pobreza pode afetar a população? Continue lendo este artigo para entender melhor sobre o assunto!
O que o índice de pobreza no Brasil representa?
Depois de passar por anos de retração, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 1% e a inflação fechou 2017 em 2,95% - a menor taxa desde 1998. Mas, mesmo assim, o índice de pobreza aumentou.
Isso demonstra claramente que somos um país desigual, no qual muitos vivem com menos que um salário mínimo. Isso significa que um número enorme de brasileiros têm uma renda que representa menos de 1/3 do preço da cesta básica (definida pelo Dieese) para o estado de São Paulo, por exemplo, ou ainda, com um valor incapaz de encher um tanque com 50 litros de gasolina.
O levantamento do IBGE ainda mostrou que todas as regiões do Brasil tiveram piora no índice de pobreza. No Nordeste a situação é mais grave, com 55% da população sendo considerada extremamente pobre, um aumento de 10,8% de 2016 para 2017. Mas até o Sudeste, considerada a região mais rica do Brasil, sofreu com o avanço da pobreza, com um acréscimo de 13,8%.
Outro dado relevante da pesquisa é a queda no rendimento médio mensal do brasileiro, que passou de R$49 em 2016 para R$ 40 em 2017, uma queda de 18%. Já na população mais rica, esse índice variou apenas 1%.
Piores condições de vida
A pobreza extrema se reflete também na condição de vida dessas pessoas e foi isso que mostrou a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE. Entre os brasileiros que vivem na linha da pobreza extrema, apenas 40,4% dos domicílios possui acesso simultâneo aos serviços de saneamento básico (abastecimento de água, rede de esgoto e coleta de lixo). Em comparação, a média nacional que é de 62,1%. Outros pontos que o IBGE considerou no estudo foram as condições de moradia, com inadequações como:
- ausência de banheiro de uso exclusivo dos moradores;
- paredes externas construídas com materiais não duráveis;
- número de moradores superior ao adequado;
- gastos excessivos com aluguel (igual ou maior que 30% do rendimento).
A média nacional é de 12% de brasileiros que vivem em domicílios que apresentam esses pontos. Entre os mais pobres, esse número sobe para 26,2%, com destaque para o excesso de moradores, que entre os mais pobres chega a 14,2%, enquanto a média nacional é de apenas 5,7%.
Mas não é só isso. A pobreza extrema também dificulta que essas pessoas tenham acesso a outros direitos básicos, como educação e proteção social, tornando a qualidade de vida extremamente reduzida.
Desigualdade
O IBGE ainda revelou outros dados que demonstram o quanto o nosso país é desigual, como:
- 1% das residências com rendimentos mais altos têm renda 3,84 vezes maior que 50% das residências com menores rendimentos;
- 20% das residências com rendimentos mais altos têm renda 18,3 vezes maior que os 20% com rendimentos mais baixos;
- 10% das residências com rendimentos mais altos têm renda 16,3 vezes maior que os 40% com rendimentos mais baixos.
O que explica o aumento do índice de pobreza no Brasil?
Mas, afinal, o que impulsionou esse aumento na pobreza brasileira, considerando que a economia conseguiu dar sinais de melhora? Para os especialistas, um aumento no PIB não indica, necessariamente, que a situação social no país é adequada, já que esse número pode estar sendo puxado para cima pelas classes mais ricas, considerando que a disparidade entre classes no Brasil é imensa.
Um ponto fundamental que contribuiu para esses números foi o decréscimo dos postos de trabalho. Com menos vagas abertas com registro em carteira, o número de trabalhadores informais aumentou.
O resultado é uma renda menor e variável, o que contribui para o aumento dos índices de pobreza. Lembrando que os empregos para aqueles sem qualificação foram os que mais sofreram retração.
Contudo, o governo aumentou o incentivo ao consumo no período analisado, liberando o FGTS, por exemplo. Isso significou um maior endividamento das famílias mais pobres, dificultando e comprometendo uma renda que já é baixa. As políticas de enfrentamento da crise também não favoreceram a vida dos mais pobres, já que o ajuste fiscal que vem sendo realizado restringe ainda mais a receita, aumentando o desemprego e ampliando as injustiças sociais, que já são significativas em nosso país.