As ameaças com MPF, TCU, com AGU, com tudo, despertou uma insubordinação em massa nas instituições de ensino superior do país. Ao menos uma dezena de universidades públicas estaduais e federais recomeçam as aulas no mês de março oferecendo disciplinas sobre o golpe de 2016 e suas consequências nefastas para a democracia, para os direitos trabalhistas e para as desigualdades sociais. Oferecidas como optativas, as disciplinas se baseiam na ementa oferecida pelo professor do Curso de Ciência Política da UnB, Luís Felipe Miguel, ou mesmo reproduzem na íntegra a proposta do cientista político perseguido pelo ministro. Formadas num esforço de “ativismo solidário”, como cursos de graduação ou pós-graduação, elas integram professores das mais diversas áreas e incluem na aula magna ou mesmo na programação, a participação do autor da ideia original.

Mesmo sob ameaça de intervenção e censura pelo MEC, 26 universidades oferecem disciplina
Parlamentares pró-golpe 2016 comemorando a aprovação da PEC 241 do congelamento de gastos. Muitos após o impeachment da presidenta Dilma [PT] foram citados, presos ou investigados por corrupção. [FOTO: Lula Marques]

 

Vai ter disciplina “O golpe de 2016 e o futuro da democracia”, nas universidades brasileiras, sim! A rebeldia começou pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e quase ao mesmo tempo contaminou a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Por reação em cadeia, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) também aderiu à disciplina proposta pela UnB seguida pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de São João del Rei  (UFSJ) e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que oferecerá a disciplina a partir de março, pela Pós-Graduação em Ciências Sociais. Mais recentemente, uniram-se ao protesto contra a violação da autonomia e da liberdade de cátedra a Universidade Estadual de São Paulo (USP), que está entre as maiores da América Latina, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que já anunciaram sua decisão de incorporar o curso, mas ainda estão definindo o formato e as condições da oferta. Enquanto isso, o programa da disciplina se espalha como rastilho de pólvora pelas redes sociais, oferecendo subsídios para cursos on-line e a distânciaem institutos de ensino publicos e privados de norte a sul do Brasil.

Em nota na sua página do Facebook, Felipe Miguel registrou sua posição sobre o partidarismo e autoritarismo que o falso argumento da imparcialidade revela, a pretexto de combater a “prática doutrinária” que o MEC, na verdade, tenta promover com essa espécie de “Universidade Sem Partido” de viés fascista e ditatorial:  “Na academia é como no jornalismo: o discurso da ‘imparcialidade’ é muitas vezes brandido para inibir qualquer interpelação crítica do mundo e para transmitir uma aceitação conservadora da realidade existente. A disciplina que estou oferecendo se alinha com valores claros, em favor da liberdade, da democracia e da justiça social, sem por isso abrir mão do rigor científico ou aderir a qualquer tipo de dogmatismo. É assim que se faz a melhor ciência e que a universidade pode realizar seu compromisso de contribuir para a construção de uma sociedade melhor”. Na posição híbrida de jornalista e cientista político, ele sabe que uma mentira muitas vezes repetida pela mídia pode se consolidar como”fato”, mas também sabe a força da aliança entre a academia e a voz das ruas para fazer vir à tona as verdades que nunca poderão ser sufocadas pelos aparatos de poder.

Escrito com informação das agencias e Jornalistas Livres