Reportagem de Nicholas Casey, Christoph Koettl e Deborah Acosta, na edição deste domingo, 10/03, do The New York Times, desmente a acusação do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, que acusou as forças de Nicolás Maduro de queimar alimentos e remédios nos incêndios a caminhões que estariam levando “ajuda humanitária” à Venezuela.

Segundo vídeos obtidos e analisados pelo jornal - incluindo imagens divulgadas pelo governo colombiano, que culpou Maduro pelo incêndio -, um coquetel Molotov lançado por um manifestante aliado ao oposicionista Juan Guaidó foi o gatilho mais provável para o incêndio. (Assista aos vídeos).

“Em um ponto, uma bomba caseira feita de uma garrafa é lançada contra a polícia, que estava bloqueando uma ponte que ligava a Colômbia e a Venezuela para evitar que os caminhões de ajuda passassem. Mas o pano usado para acender o coquetel Molotov se separa da garrafa, voando em direção ao caminhão de primeiros socorros. Meio minuto depois, o caminhão está em chamas”, relata a reportagem.

Segundo os jornalistas, o mesmo manifestante pode ser visto 20 minutos antes, em um vídeo diferente, atingindo outro caminhão com um coquetel Molotov, sem incendiá-lo.

As imagens contrariam Pence - e aliados dos Estados Unidos, como o governo Jair Bolsonaro -, que escreveu que “o tirano em Caracas dançou” enquanto seus capangas “queimavam alimentos e remédios”.

John R. Bolton, assessor de segurança nacional do presidente Donald Trump, também foi desmascarado com as imagens. “Maduro mentiu sobre a crise humanitária na Venezuela, ele contrata criminosos para queimar alimentos e remédios destinados ao povo venezuelano”, tuitou Bolton.

Outra mentira propagada pelo governo dos Estados Unidos, segundo a reportagem, é sobre o envio de medicamento.

Consultada, a Agência estadunidense para o Desenvolvimento Internacional, o principal fornecedor da ajuda, não listou medicamentos entre suas doações.

Um alto funcionário da oposição na ponte naquele dia disse ao The New York Times que o carregamento queimado continha suprimentos médicos, como máscaras e luvas, mas não remédios. Videoclipes analisados ​​pela reportagem mostra que algumas das caixas continham kits de higiene, com suprimentos como sabão e pasta de dente.

Mudança de discurso

Depois de serem contatados pela reportagem com essas alegações, as autoridades americanas divulgaram uma declaração descrevendo como o incêndio começou de maneira mais cautelosa.

“Relatos de testemunhas oculares indicam que o incêndio começou quando as forças de Maduro bloquearam violentamente a entrada de assistência humanitária”, disse o comunicado, sem especificar que teriam sido as forças de Maduro que atearam fogo.