É o caso da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. Em nota divulgada nas redes sociais nesta sexta-feira, 28/09, o grupo criticou, entre outras coisas, o discurso bélico de Bolsonaro, que defende a popularização do uso de armas de fogo no país. O texto repudia a apologia à violência, ao machismo e ao racismo, afirmando que o programa de governo do candidato tem caráter “excludente”.
Além disso, a Frente disse condenar a prática da tortura, também defendida pelo presidenciável, destacando que se trata de crime de lesa-humanidade.
“Era urgente a nossa manifestação contra uma candidatura que entendemos ser antidemocrática e fascista, e que só é permitida num país em que as instituições estão fragilizadas. A gente entende que, num país sério e com a democracia funcionando, candidatos que incitam o ódio são banidos do processo”, afirma Nilza Valéria, uma das coordenadoras da Frente.
O movimento reúne cerca de 10 mil fiéis, nas cinco regiões do país, abrangendo os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Pará, Mato Grosso, Ceará, Paraíba e Distrito Federal.
Outro grupo de caráter progressista que tem se manifestado contra a candidatura de Bolsonaro é a Frente Evangélica pela Legalização do Aborto, concentrada no Rio de Janeiro, mas que também reúne militantes em São Paulo, Pernambuco e outros estados.
O grupo rejeita a postura extremista do presidenciável. A estudante universitária Camila Mantovani, uma das militantes da causa, aponta que Bolsonaro lança mão de uma “política de medo e terrorismo” para promover o ódio.
“É uma manipulação completamente eleitoreira. Ele não tem qualquer compromisso com os valores cristãos, não consegue ter coerência com a verdade do Evangelho que a gente encontra na figura de Jesus. O discurso do Bolsonaro e alguns apoiadores é anticristão”, analisa.
Outra ideia promovida pelo presidenciável que é fortemente criticada pela Frente é a negação dos direitos das mulheres, não só no quesito profissional – Bolsonaro defende salários menores para elas –, mas também no que se refere à violência.
O candidato ainda defendeu a cultura do estupro em diferentes manifestações públicas nos últimos anos. Em uma dessas ocasiões, durante uma sessão parlamentar em 2014, ele chegou a ofender a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) com discurso de apologia à violência sexual. Por conta disso, foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em agosto do ano passado, por danos morais.
“O próprio Jesus sempre fortaleceu e legitimou as mulheres e as colocou num lugar de protagonismo. Esse candidato faz o oposto: coloca a gente num lugar de extrema inferioridade, vulnerabilidade e de extrema exposição à violência. É um discurso que deslegitima a nossa existência. A gente tem completo repúdio à figura de Jair Bolsonaro a tudo que ele representa”, critica.
Cultura da paz
A resistência ao candidato do PSL faz escola também em outros lugares do país, como é o caso do interior de Goiás. No município de Aparecida de Goiânia, nas imediações da capital, o pastor Rosivaldo Pereira de Almeida é uma das lideranças evangélicas que têm feito frente às ideias de Bolsonaro.
Atuante numa igreja de tendência pentecostal e professor das áreas de educação e direitos humanos da Universidade Estadual de Goiás (UEG), ele destaca a preocupação com o avanço de ideias políticas fascistas.
“Nosso posicionamento é absolutamente contrário a esse movimento, à ideia de não suportar o diferente, a diferença e de você produzir todo um discurso de eliminação do outro. Esse discurso é absolutamente anticristão, do ponto de vista político e teológico também”, afirma.
Como contraponto ao avanço da cultura do ódio, Almeida conta que igreja onde atua tem procurado mobilizar cada vez mais a comunidade religiosa por meio da promoção de debates que buscam a conscientização social e o incentivo à cultura da paz.
Entre as atividades, a igreja oferece cineclubes; hip hop, feito em parceria com o movimento negro; e ainda uma biblioteca com títulos que discutem questões como reforma agrária, igualdade racial, agroecologia, política em geral, entre outros temas.
O pastor defende o engajamento político e social de líderes religiosos das mais diferentes tendências para combater o avanço do ódio no país.
“Nós precisamos criar meios de contribuir com os processos educativos informais e nos posicionarmos política e teologicamente contra. É só por meio da educação que a gente vai conseguir reverter essa questão como caminho de luta contra a intolerância, a misoginia, o machismo, o racismo, entre outras práticas fascistas”, argumenta.
Edição: Diego Sartorato | Brasil de Fato