A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) gerou uma grande onda de indignação ao proferir um ataque considerado racista contra Benedita da Silva (PT-RJ), uma das figuras mais proeminentes na luta pelos direitos das mulheres e do movimento negro no Brasil. Durante uma live transmitida através de seus perfis nas redes sociais, na noite de terça-feira, 02/07, Zambelli chamou a petista de "Chica da Silva", uma referência histórica a uma mulher escravizada do século 18 que alcançou notável ascensão social após obter sua alforria.

Benedita da Silva, que já foi governadora do Rio de Janeiro e atualmente atua como coordenadora da Bancada Feminina e da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados, discursou recentemente na Reunião de Mulheres Parlamentares do P20 em Maceió (AL), um evento que reúne parlamentares dos países que compõem o G20, grupo atualmente presidido pelo Brasil. Zambelli, que se queixava de não ter sido autorizada a discursar no evento, usou o nome de Chica da Silva de maneira depreciativa para se referir a Benedita, gerando grande repercussão negativa.

Quem foi Chica da Silva?

Francisca da Silva de Oliveira, conhecida popularmente como Chica da Silva, é uma figura histórica de grande relevância no Brasil. No século 18, ela foi uma mulher escravizada que conseguiu sua alforria e rompeu diversas barreiras sociais, tornando-se uma figura poderosa em Arraial do Tijuco, atual cidade de Diamantina, em Minas Gerais. A trajetória de Chica da Silva inspirou livros, filmes e novelas, sendo uma referência de resistência e superação. No entanto, o tom usado por Zambelli ao comparar Benedita a Chica foi visto como desrespeitoso e racista.

O historiador Douglas Belchior, ativista e cofundador da UneAfro e da Coalização Negra por Direitos, destacou a inadequação e o caráter ofensivo da declaração de Zambelli.

"Chica da Silva foi uma mulher escravizada que virou uma figura de grande influência no século 18. Benedita da Silva, nascida em uma favela, enfrentou e venceu inúmeras adversidades, tornando-se uma rainha na política brasileira. No entanto, a intenção de Carla Zambelli ao fazer essa comparação foi claramente racista, evidenciada pelo tom de deboche utilizado durante a live", afirmou Belchior.

Belchior ainda enfatizou a necessidade de providências por parte da Câmara dos Deputados contra Zambelli.

"É crucial que as autoridades tomem medidas adequadas diante desse ato racista. Arthur Lira, presidente da Casa, precisa se posicionar de maneira firme e exemplar. Minha solidariedade a Benedita da Silva, uma companheira de longa data na luta pelos direitos do movimento negro. Carla Zambelli, lave sua boca antes de falar de Benedita!", completou.

Onda de solidariedade a Benedita da Silva

A fala de Carla Zambelli gerou uma onda de solidariedade a Benedita da Silva, com diversas manifestações de apoio vindas de diferentes setores da sociedade. Em nota oficial, o PT do Rio de Janeiro repudiou veementemente as declarações de Zambelli, destacando a trajetória exemplar de Benedita na política brasileira e sua importância na luta pelos direitos do povo negro. "Nossa solidariedade e apoio à nossa grande referência e exemplo de luta, Benedita da Silva, que foi chamada de 'Chica da Silva' pela deputada bolsonarista Carla Zambelli. Benedita tem uma trajetória política exemplar, especialmente na luta do povo preto. Racistas não passarão", afirmou o partido em comunicado.

Ministros do governo Lula também se manifestaram sobre o ocorrido. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, ressaltou a importância de Benedita da Silva na política nacional e a considerou uma inspiração para todos que lutam por um país mais democrático e sem racismo.

"Benedita da Silva é uma das maiores referências da política nacional. Uma inspiração para homens e mulheres que lutam por um país democrático, desenvolvido e sem racismo. Deputada Benedita, amamos a senhora e sempre estaremos ao seu lado", escreveu Almeida.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também expressou seu repúdio às declarações de Zambelli, destacando a trajetória exemplar de Benedita da Silva na luta pelas minorias e pelos direitos do povo preto.

"Benedita da Silva tem uma trajetória política exemplar de luta, especialmente na luta do povo preto e das minorias. É a única parlamentar negra eleita deputada federal constituinte e é um grande exemplo para nós do Partido dos Trabalhadores e para o Brasil. Não podemos aceitar que discursos racistas e de ódio encontrem espaço em nossa sociedade e muito menos vindos de parlamentares, que devem seguir uma conduta ética e exemplar. Estamos com você, Bené!", afirmou Padilha.

A indignação não se limitou ao âmbito político. Diversos movimentos sociais e ativistas de direitos humanos também se pronunciaram em defesa de Benedita da Silva, ressaltando a necessidade de combater o racismo estrutural presente na sociedade brasileira.

"O ataque de Carla Zambelli é mais um reflexo do racismo estrutural que permeia nossa sociedade. Benedita da Silva é um símbolo de resistência e superação, e sua trajetória deve ser respeitada e valorizada. Não podemos tolerar atitudes racistas, especialmente vindas de figuras públicas que têm a responsabilidade de representar todos os cidadãos", destacou a UneAfro em comunicado.

Nas redes sociais, as hashtags #Solidariedade e #BeneditaDaSilva ganharam força, com milhares de usuários expressando apoio à ex-governadora e condenando as falas de Zambelli. Entre os comentários, destacam-se mensagens de reconhecimento à trajetória de Benedita e críticas contundentes ao racismo presente nas declarações da deputada bolsonarista.

"Benedita da Silva é um exemplo de luta e resistência. Não podemos permitir que atitudes racistas sejam normalizadas. Toda minha solidariedade a essa mulher incrível e guerreira", escreveu um usuário no Twitter.

A repercussão do caso coloca em evidência a importância de promover um debate mais profundo sobre racismo e respeito às diversidades no Brasil. A trajetória de Benedita da Silva, marcada por superações e conquistas, serve de inspiração para muitos, destacando a necessidade de reconhecer e valorizar a diversidade de histórias e experiências que compõem o tecido social brasileiro.

Além disso, o incidente reforça a urgência de ações concretas para combater o racismo estrutural e garantir que atitudes discriminatórias sejam devidamente punidas, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A luta de Benedita da Silva e de tantas outras mulheres negras deve ser respeitada e celebrada, como parte fundamental da história e da construção de um Brasil melhor para todos.