Seu Miguel Buta ensina como se faz um covo de pesca com bambú. Registro feito em novembro de 2013, às margens do Rio Paraíba e no Parque da Cidade, em São José dos Campos SP.

Seu Miguel é um piraquara que vive há 72 anos na beirinha do Rio Paraíba. Seu sustento ele tira do rio; o peixe, e nas margens faz as roças de milho, feijão, abóbora e mandioca. Nunca parou de pescar, mesmo na época em que o rio ficou poluído e a maior parte dos pescadores acabou fichando nas fábricas. Ele sabia dos locais limpos, onde desaguavam os afluentes livres da água poluída pelas grandes indústrias e continuou pescando e entregando no Mercado Municipal todos os sábados.

Para quem não sabe, é possível pescar de diversas maneiras, não é só com rede ou vara que se tira peixes do rio. Existem armadilhas que podem ser fabricadas com bambú ou linha de pesca numa armação de cipó tingá. São os chamados covos de pesca, armadilhas compostas de uma armação externa, conhecida como "mãe", por ser a maior e uma parte interna, o "filho". Dentro do filho coloca-se uma isca, que pode ser pão amanhecido ou sardinha, joga-se dentro d'agua, prende-se bem com bambu ou corda e espera-se que os peixes entrem lá dentro para comer. Depois de uns 2 ou 3 dias, retira-se a armadilha da água e recolhe-se os peixes. Qualquer peixe pode ser pego com o covo.

O covo que seu Miguel faz é de bambu "tecido". Usa bambú comum colhido no dia, abre as varas, destala com facão e depois dá início ao complicado e bonito processo de "tecer" o bambú. Se por acaso não utiliza todo o bambú cortado, é preciso manter o que sobrou dentro d'água, para que fique flexível e não se quebre durante o processo de tecer o covo. Antigamente usava o cipó tingá para ajudar a manter a armação, mas hoje uma cordinha de plástico fez as vezes do cipó. O covo que ele fez para demonstração é bem menor do que os que ele utilizava antigamente, que de pé eram maiores do que a altura de homem. Isso os covos de bambú, porque os de linha mediam até o dobro disso.

Seu Miguel não pesca mais com covo porque é um objeto muito trabalhoso de fazer e segundo ele, o pão está muito caro, ninguém mais dá pão de graça como antigamente. Assim, hoje ele só pesca mesmo na rede, mas nos meses que a lei permite, pois de novembro a março é a época da desova e a pesca está proibida. Neste dia em que fotografei, ele estava dando início ao covo que vai apresentar no Museu Vivo e por isso não está terminado. Ele finalizou o covo no Museu, para que as pessoas pudessem acompanhar pelo menos uma parte do processo.