Além de sua veia criativa, desenvolvida ao longo de vários anos de trabalho na indústria - onde, mesmo sendo parente do proprietário da Timely Comics, Martin Goodman, iniciou quase que como um garoto de recados -, Stan Lee destacou-se por ter uma aguçada visão de mercado e uma sensibilidade muito grande em relação àquilo que poderia agradar os leitores de quadrinhos, cujas demandas de entretenimento e evasão ele buscava satisfazer.

No início da década de 1960, Stan Lee começou a propor uma série de personagens que exploravam um dos arquétipos mais recorrentes da cultura pop norte-americana, o do herói que consegue ser bem sucedido, apesar de ter todos os elementos contra si. Sua proposição super-heroística mesclava ironia e características anti-heróicas, à época pouco comuns aos personagens das revistas de histórias em quadrinhos, trazendo heróis que conviviam com problemas ou dificuldades que também poderiam afetar o leitor comum, como a incompreensão dos semelhantes, dificuldades econômicas, conflitos com autoridades policiais e crises de consciência.

Sua prolífica produção culminou durante os anos 1960, quando na qualidade de editor-chefe e principal escritor da Marvel Comics, ele criou um método de escrever quadrinhos rápido e interessante: ele escrevia o roteiro básico da história, normalmente apenas uma ou duas páginas datilografadas. Baseado nestas poucas linhas, o ilustrador desenhava toda a revista. Por fim, o lápis chegava às mãos de Lee, que, então, adicionava os diálogos. Este método, que colocava a toda estruturação das histórias nas mãos dos desenhistas, rendeu mais tarde inúmeros questionamentos sobre qual teria sido a real participação de do então editor-chefe na criação das personagens da Marvel Comics.

Devido a esse processo e a relação da companhia com Stan Lee, a empresa é frequentemente criticada por minimizar a importância de quadrinistas como Jack Kirby, Steve Ditko e Bill Everett, cocriadores dos grandes heróis atribuídos ao roteirista. O próprio Lee aceitou esses holofotes e raramente menciona os colegas em entrevistas ou dá a eles a importância devida - tornando-os ilustres desconhecidos do grande público, que aceita a versão de que Stan Lee é o único "gênio" por trás da Marvel Comics.

É inegável, porém, que a argúcia editorial permitiu a Stan Lee efetivar uma guinada nos rumos seguidos pela indústria de quadrinhos norte-americana. Não por algo nato ou adquirido por meio de uma visão reveladora, como muitas vezes costuma ser veiculado. Pelo contrário, essa abordagem foi construída aos poucos, durante anos de atuação como um obscuro editor de quadrinhos, fase que consumiu quase 20 anos de sua vida. Seu primeiro herói, afinal, o Destroyer, data de 1941, duas décadas antes do surgimento do grupo que o levaria ao estrelato, o Quarteto Fantástico.

Depois de sua carreira consagrada na Marvel Comics, que incluiu uma breve passagem pela cadeira de presidente, o carismático e divertido Stan Lee permaneceu durante muitos anos como uma espécie de rosto público da empresa, aparecendo em convenções e entrevistas. Até o fim da vida ele permaneceu como figura central das ações da chamada "Casa das Ideias", tendo realizado participações especiais em todos os longas-metragens do Marvel Studios.

Participações em filmes de Stan Lee:

 

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